Junto a uma folha de alface, um político acaba ingerindo um verme que, de uma hora para outra, é lançado para dentro de um ambiente totalmente desconhecido, até então: o organismo humano. Pior: o corpo de um candidato em campanha em uma certa capital federal, que dispensa a ética quando o assunto é a eleição.
Em “Os Vermes”, José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta afiam seu humor e constroem uma sátira política sobre os bastidores da vida pública nacional, a partir do olhar inusitado de um invertebrado pegajoso, instalado em local estratégico, literalmente dentro do poder.
Helminto se aloja no corpo do político sabendo pouco sobre si mesmo e menos ainda sobre política. Após ser empurrado para dentro de uma caverna (a boca), estatelar-se sobre algo vermelho e molengo (a língua), escapar por pouco de ser esmagado por uns pedregulhos amarelos (os dentes), despencar precipício abaixo (o esôfago), quase afogar-se em um lago (o estômago), eis que o verme é salvo no pâncreas pelo Eurytrema pancreaticum — “mas podem me chamar de Eury” — que passa a ser seu guia dos pés à cabeça do hospedeiro, sem esquecer das visitinhas rápidas e curiosas às reentrâncias, glândulas e aos órgãos excretores.
Eury aponta ao novo companheiro cada um dos aliados, inimigos e assessores do candidato-hospedeiro — assim como suas atitudes mais reprováveis, como as coligações e trocas de favores. Como afirma um certo Maquiavel na orelha “psicografada” de “Os Vermes”: “Vermes e políticos têm mais em comum do que se pensa. Ambos fazem caminhos tortuosos, estão em todos os lugares e preocupam-se, antes de tudo, com sua sobrevivência”.
Da verve humorística de Torero e Pimenta não escapa uma frase sequer de da obra. Sem pudor, a dupla desfila uma série impagável de metáforas unindo os bastidores da vida política nacional às funções excretoras do ser humano. Corpo a corpo, o verme conhece a religião do Excrementismo, seus sacramentos e sua máxima: “não é preciso divulgar o excrementismo; o excrementismo vem até nós”.