“Quando transpus a fronteira do México, senti novamente o desejo de escrever”. Essa confissão, registrada numa entrevista concedida alguns meses depois de sua terceira viagem ao país de Octavio Paz e Diego Rivera, dá uma medida da influência exercida pelos aspectos inesperados e maravilhosos da cultura mexicana sobre a criação ficcional de Erico Verissimo. Realizado em maio de 1955 ao lado da mulher, Mafalda, o périplo do autor de O tempo e o vento através do México lhe possibilitou superar o bloqueio criativo ocasionado pelas agruras burocráticas de seu cargo na Organização dos Estados Americanos, em Washington. Permeado de reflexões estéticas, históricas e antropológicas, México é o delicioso relato de suas experiências ao longo de um roteiro que incluiu a capital federal, Oaxaca, Taxco, Cuernavaca, Puebla e outras cidades da Meseta Central.
Na companhia de guias locais como o escritor José Vasconcelos e o muralista David Siqueiros – além do amigo gaúcho Vianna Moog, que então residia no Distrito Federal -, os Verissimo se entregam a uma completa imersão na mexicanidad. Em meio a ruínas astecas e toltecas, igrejas barrocas e palácios rococós, mercados apinhados e ruas solitárias, as vívidas descrições dos lugares visitados fogem dos estereótipos do falso pitoresco para apresentar ao leitor brasileiro um México surpreendente, dividido entre o apego às tradições indígenas e criollas e a acelerada modernização dos costumes.