Os voos 402, 1907 e 3054 protagonizaram alguns dos episódios mais trágicos da história da aviação brasileira. As circunstâncias que envolveram cada um desses acidentes mobilizaram a opinião pública, revelaram falhas no sistema aeroviário, e revoltaram o país. A ausência de sobreviventes torna esses acontecimentos ainda mais estarrecedores. Em cada avião, nos poucos segundos em que pilotos, copilotos e tripulantes se viram diante de seu maior desafio — a luta pela sobrevivência ?, a batalha já estava perdida. Ivan Sant’Anna, autor do impactante Caixa-preta, relata em Perda Total os meandros dessas histórias, mesclando à narrativa o rigor técnico dos fatos apurados e o toque humano dos relatos sobre as vidas afetadas pela tragédia. “Meu relato é baseado nos laudos do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), em inquéritos das polícias estaduais e federal, nos processos que tramitam na Justiça e nas sentenças dos magistrados. Todo esse material, embora imenso, não seria suficiente para escrever este livro se eu não contasse com a colaboração de parentes das vitimas e com a ajuda de diversos pilotos comerciais (na ativa e aposentados), de peritos em desastres aéreos e de engenheiros aeronáuticos e projetistas de aviões”, atesta Ivan em seu texto de introdução. Em 1996, o voo 402 decolou do aeroporto de Congonhas e em exatos 24 segundos caiu sobre o bairro residencial do Jabaquara, em São Paulo. Noventa e nove pessoas morreram. Algo impensável aconteceu no ano de 2006: um avião comercial e um jato executivo colidiram em pleno ar. Os sete ocupantes do Legacy conseguiram pousar, sãos e salvos. Mas o Boeing 737 enterrou no coração da selva amazônica mais de 150 vidas. Menos de dez meses depois, o voo 3054 protagonizou a maior tragédia da aviação comercial brasileira. Na aterrissagem, o Airbus varou a pista do aeroporto, saltou a avenida Washington Luís e se chocou contra um prédio. Uma catástrofe sem precedentes que deixou 199 mortos. Num meticuloso trabalho de pesquisa, Ivan Sant’Anna reconstitui, passo a passo, os eventos que levaram esses voos a um destino sinistro. O escritor recorre à técnica do jornalismo literário em que a informação precisa – essencial às grandes reportagens – ganha contorno humano, ao permitir que leitor tenha a dimensão do impacto emocional dos fatos relatados. Por três anos, o autor investigou as causas e as consequências desses acidentes. Mergulhou em arquivos, inquéritos, processos judiciais, relatórios, gravações das caixas-pretas. Ouviu os parentes das vítimas, pilotos comerciais, projetistas de aviões, engenheiros e peritos. Do embarque de cada passageiro até os momentos finais do voo, o autor reconstitui a movimentação na cabine, as ordens das torres de comando, as condições do tempo, da pista e do avião. O resultado é um texto direto e elucidativo, em que o escritor revive cada minuto da agonia dos que viveram ou acompanharam de perto essas tragédias.